quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Estuda, minha filha.

Duas coisas que tenho de montão: celulite e ambição. Da primeira, eu desisti. Da segunda, não.
A gente entra na escola e começa a estudar. E não pára mais. Estuda pra passar de semestre, de ano, no vestibular. Depois, estuda pra passar de semestre, de ano e no TCC. Depois, estuda pra passar a andar de carro próprio, pra passar roupa por que agora mora só, pra passar a ser independente. Estudamos por que é o meio que foi dado a nós, reles mortais sem talento pra cantar, pra atuar, ou pra dormir com alguém e ser promovido. Então, estudamos.
Se fosse só isso, maravilha! Mas não. "A coisa tá preta. Estuda minha filha... que tem gente com diploma batendo de porta em porta pedindo emprego", diz a mim, meu pai. Agora, diz a mim, meu pai. Garanta pra mim que esses cinco anos na faculdade valerão a pena e eu vou poder ser uma independent woman and buy my own diamonds. Não há garantia. Por isso tanta gente aposenta o cartão da biblioteca e vai atrás de fazer a própria sorte.
Eis aqui as opções que temos: seguir o caminho convencional e buscar conhecimento e preparo para ser um cidadão ativo e bem-remunerado, na sociedade. Ou chutar o balde. E deixar a vida te levar.
Eu gosto do meu balde. Gosto de dar aos meus pais a tranquilidade que quero que meu filho me dê, de tentar construir uma carreira honesta. PALMAS.
Agora, que dá raiva o salário que os atores da Globo ganham, ah dá. Que dá raiva o que esses políticos F#$*¨%&S ganham, ah dá! Mas, fazer o quê? Dizer até mais, porque tenho um trabalho da facul pra terminar.

Um breve conto chuvoso

Ela caminhou até a cama e sentou-se. Chovia. Sempre gostou dos dias chuvosos, do cheiro de asfalto molhado, dos pingos de chuva apostando corrida no vidro da janela e, especialmente, de não precisar sentir-se estranha por não querer sair de casa e afastar aquele sentimento gostoso de melancolia, nostalgia... ou seria tristeza? Não sabia. Mas era reconfortante observar como as pessoas na rua corriam pra buscar um abrigo, afinal, ela era uma metáfora viva disto: procurar um abrigo, um local que a protegesse do frio, que lhe aquecesse. Perguntou-se se existia alguém além dela que, naquele momento, também via o vento levantando poeira, chacoalhando árvores e chocando-se contra os prédios, alguém que também notasse uma sutil beleza na cena.
Enquanto observava uma barulhenta rachadura tingir o céu de branco por uma fração de segundos, lembrou-se que a avó costumava dizer que chovia quando Deus estava triste e trovejava quando Ele se irritava. Será?
A chuva agora passava e levava com ela o rápido momento de torpor. Enquanto as nuvens iam dando licença ao Sol, a garota pedia licença à sua sensibilidade, pedia permissão pra voltar a realidade. Levantou-se e foi preparar um café.