quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um breve conto chuvoso

Ela caminhou até a cama e sentou-se. Chovia. Sempre gostou dos dias chuvosos, do cheiro de asfalto molhado, dos pingos de chuva apostando corrida no vidro da janela e, especialmente, de não precisar sentir-se estranha por não querer sair de casa e afastar aquele sentimento gostoso de melancolia, nostalgia... ou seria tristeza? Não sabia. Mas era reconfortante observar como as pessoas na rua corriam pra buscar um abrigo, afinal, ela era uma metáfora viva disto: procurar um abrigo, um local que a protegesse do frio, que lhe aquecesse. Perguntou-se se existia alguém além dela que, naquele momento, também via o vento levantando poeira, chacoalhando árvores e chocando-se contra os prédios, alguém que também notasse uma sutil beleza na cena.
Enquanto observava uma barulhenta rachadura tingir o céu de branco por uma fração de segundos, lembrou-se que a avó costumava dizer que chovia quando Deus estava triste e trovejava quando Ele se irritava. Será?
A chuva agora passava e levava com ela o rápido momento de torpor. Enquanto as nuvens iam dando licença ao Sol, a garota pedia licença à sua sensibilidade, pedia permissão pra voltar a realidade. Levantou-se e foi preparar um café.